segunda-feira, 15 de abril de 2013

CORPO E ÉTICA – UMA VISÃO FILOSÓFICA

CORPO E ÉTICA – UMA VISÃO FILOSÓFICA

Ricardo Timm de Souza

I.
Em primeiro lugar, é necessário desmistificar a própria idéia de filosofia. Filosofia: a palavra é grandiosa, mas nem sempre aquilo que é grandioso necessariamente é iniciático. Igualmente, não é veleidade. Existe uma “definição” que podemos com toda tranqüilidade utilizar, embora definir seja sempre perigoso – porém, quem fala em filosofia fala em origem da palavra. Definição, definir... dar fim,...  delimitar, dar limites, etc...: entenda-se sentido lato. Filosofia é quando sai o argumento de autoridade e entra a autoridade do argumento. Tem que ter argumento. Não adianta eu dizer algo se eu não puder argumentar a respeito.
Por outro lado, quando alguma coisa começa a se tornar “óbvia”, a filosofia começa a se interessar. Ela é uma “ciência” diferente das outras nesse sentido. Um conhecer, um saber diferente dos outros, porque os outros se desinteressam quando as coisas são óbvias e a filosofia começa a se interessar quando está óbvio demais, por assim dizer.
Desse modo, destaque-se que a confusão que se cria entre a filosofia e  erudição hoje com a Internet não tem mais nem sentido. Porque erudição está na biblioteca ou está nas bases de dados da Internet, mas isso não é filosofia, isso é pressuposto para que eu não invente a roda novamente, apenas. É o susto que todo estudante de filosofia leva quando ele pensa ter uma idéia genial e vai ver e esta idéia tem 2500 anos de idade. Ou às vezes ainda mais, se vem de uma sabedoria também correlata ou anterior. E, na verdade, a filosofia é a coisa mais próxima que pode haver de nós, porque é o momento exato em que nós vivemos, é o aqui e agora que surpreende a si mesmo sob a forma de questão. Um dos maiores filósofos do século XX, Edmund Husserl, criador da Fenomenologia, dizia: filosofia não surge de si mesmo, ela surge das coisas e dos problemas. Filosofia trata do que dá o que pensar. Se não for assim, ela surge de uma fábula e ocupa o nosso cérebro no lugar daquilo que nos daria o que pensar se nós tivéssemos tido a atenção ou tivéssemos tido a educação, a inquietação, a formação, a provocação de cada instante vital. Então, na verdade nós estamos falando de algo absolutamente concreto. Então, nós estamos trabalhando é no aqui e agora e o que segue tem a ver com o aqui e agora.

II.
Vamos começar pelo “corpo”, no caso o corpo humano. E se poderia poderia fazer aqui toda uma história da idéia de corporeidade, da idéia de corporalidade, mas não é o caso. O que é corpo para nós? Corpo para nós: é um tema que vai nos interessar na relação do esporte. Nós não sabemos, partimos então da nossa curiosidade original, vamos procurar um tratado de anatomia. Tratado de anatomia – e nesse tratado de anatomia a gente vai procurar, por exemplo, um olho humano. O que é um olho? Eu sempre fiquei curioso para ver o que é um olho antes de abrir. Eu sempre vejo lá aquele desenho clássico de um olho ligado por um nervo ótico, o olho é aquele globo que tem o cristalino e tal, aquele humor aquoso interno, a retina e aquelas células diferenciadas das cores, bastonetes, cones. Nervos que levam a imagem, por assim dizer, até o cérebro, o processamento cognitivo do cérebro em relação a essa excitação nervosa, tudo muito bonito. Mas... O olho é isso? Primeira pergunta. É claro. Porque um tratado é o relato minucioso de um corte histológico, um corte anatômico, etc.. A resposta é sim, um olho é isso. É isso que está sendo descrito nesse tratado. Aí está, portanto, o olho, paralisado, parado. Nesse ponto, quando ficou óbvio que esse olho é um olho, que a descrição é de um olho, porque parece um olho, está descrito, está mostrado, está contextualizado, portanto não há razão nenhuma para desconfiar, vem a filosofia e começa a questionar. Por trás deste olho, dessa descrição, isso é um olho? O que significa o fato de ele ser um olho? Por trás dessa pergunta há outra implícita, que, no caso, podemos fazer a um oftalmologista: em qual tratado de oftalmologia está escrito a razão pela qual o senhor se tornou um oftalmologista? Porque o fato é que ele é um oftalmologista. Esse é um fato incontestável. Partimos dessa premissa básica. Procuramos em todos os tratados possíveis e imagináveis e não achamos a razão pela qual ele se transformou no que ele é. Achamos todo o resto: como tratar, como é a descrição desse órgão chamado olho, como é que se inscreve esse órgão no contexto do organismo humano, a evolução, a filogenética, os tecidos, a parte celular, a parte histológica, as patologias, tudo muito bem descrito; só não se a acha a razão pela qual ele se transformou num oftalmologista. Aí começa a surgir uma interessante questão. Porque a pergunta que nós fazemos é a seguinte agora (uma pergunta capciosa, uma pergunta um pouquinho ardilosa): o olho é uma estrutura diferenciada, inserida no crânio, etc., não é? É, do ponto de vista anatômico, científico, não há dúvida. Nenhum de nós tem problema com isso. Mas o olho, antes disso, antes de sua descrição, seria alguma coisa se ele não servisse para ver? Por exemplo: o olho daqueles peixes e lagartos que acabam ficando em cavernas perdendo coloração, perdendo tudo, porque não precisam de olhos, os olhos vão atrofiando. Peixe-cego: peixe-cego é uma espécie, tem olhos, o olho está lá, só que não serve para ver, porque não precisa ver, ele vive num ambiente sem luz. Surge então uma resposta algo inusitada à questão colocada – “o que é um olho?”: antes do olho ser aquilo que nós somos capazes de descrever, ele seria uma expectativa de ter tempo para se processar como olho, ou seja, ter tempo para que a luz chegue, atravesse o cristalino, chegue até a retina para excitar aquelas células nervosas que por sua vez excitam o cérebro que por sua vez então processa e tem idéia de imagem. Isso não se dá em uma simultaneidade. E aí nós estranhamos, pois parecem duas perguntas que não têm nada a ver uma com a outra. Para esclarecer melhor, vamos pegar um elemento mais simples, uma mão, uma mão humana. Quer dizer, eu peguei a caneta. Aí eu vou descrever a mão, o que é uma mão humana? Uma mão é uma parte diferenciada de um membro superior, ligada a tendões, com movimento, e faço a mesma descrição anatômica... a única coisa que eu não digo é que a mão não funcional não é uma mão em sentido pleno, completo, não? Ela está ali, mas ela não exerce a sua função, o que a constitui como uma mão humana que serve para agarrar algo, para tocar algo, para tatear algo. O que é uma mão humana? Aí vem a pergunta ardilosa. Talvez uma mão humana seja a expectativa de poder sair de onde está e chegar aqui para pegar este objeto, segurar esta caneta para escrever alguma coisa. É uma expectativa, e uma expectativa temporal – porque, afinal de contas, se não houvesse tempo, a mão não pegaria nada, não chegaria lá. E aí vamos chegar no terceiro exemplo, um exemplo muito simples, muito fácil. Os pulmões, sabemos que nós temos dois órgãos compostos de alvéolos pulmonares ligados ao sistema circulatório, respiratório, trocas gasosas. “Trocas gasosas” já significa: extrair de dentro dessa própria definição a idéia de temporalidade. Afinal, troca não se dá numa simultaneidade, mas num processo de troca. Primeiro tem que haver tempo para que essas trocas se processam – todo o mais deriva disso. Então nós estamos vendo aqui uma coisa interessante. Nós somos essencialmente constituídos de tempo sob a forma de expectativa e de sua realização ou não. Nós somos uma expectativa de temporalidade e isso é anterior a qualquer descrição que nós sejamos capazes de fazer de nós mesmos.

III.
 Esse seria o foco de nossa reflexão. A razão disso é bastante interessante. Nós temos algo que já nos classificou inclusive como humanos no classicismo grego, animais racionais. E essa ratio é uma derivação do modelo do logos, que é por sua vez uma palavra que deriva de um verbo grego muito conhecido, muito rico, que vai desde classificar até ordenar, até definir, até dar sentido, etc. Tem poder extraordinário o nosso intelecto, vamos dizer assim, “Intus legere”, inteligência, que é o ato de tirar ou retirar de algo seu sentido de coisa, seu sentido de objeto. Eu retiro da caneta o sentido de objeto que a caneta tem para mim. Neste momento ela é algo para escrever, mas se eu precisar, digamos, ativar um desses mini-teclados eletrônicos ela vai servir para apertar as teclas. E se eu tiver que me defender de alguém ela vai servir de arma. Então eu retiro do objeto o sentido de objeto que o objeto tem para mim. Mas, “essencialmente”, nós chegamos a uma essência ou aquilo que nós construímos ou entendemos que seja a essência do objeto. Caneta, em princípio, é algo que serve para escrever. E ao fazermos isso, ao “essencializarmos”, nós fazemos um milagre, milagre que é nos retirarmos do tempo. Nós saímos fora do tempo. Quando Pitágoras pensa no Teorema de Pitágoras, e nós pensamos no Teorema de Pitágoras, é o mesmo, não mudou absolutamente nada ao longo de tantos séculos. Por isso que é possível hoje nós falarmos e darmos exemplos do Teorema de Pitágoras como Pitágoras teria feito, porque nós “saímos fora” da temporalidade. Nós estamos presos na presença, que é o preço que nós pagamos por termos conseguido, pela inteligência, saído fora da própria temporalidade que, paradoxalmente, é o que nos constitui. Então veja-se que aí nós temos um imenso problema. Nós podemos nos confundir com a nossa própria imagem anatômica, fisiológica. Uma imagem fisiológica chega aliás a ser uma contradição. Eu posso me confundir com a ciência, com a descrição assim como eu confundiria a cidade do Porto que eu não conheço, com um cartão postal desta cidade...  Perguntaríamos, ao ver o postal: essa é a cidade do Porto?  E a resposta seria evidente: não, este é um testemunho vestigial arbitrado por alguém que queria dar uma idéia, para alguém, de uma percepção, de uma perspectiva da cidade do Porto. Que possível confusão que começa a se criar aí, então. Nós generalizamos, retiramos a singularidade. Assim como nós, ao retirarmos da caneta a idéia de caneta, quando olharmos olharmos outra caneta, nós a re-conhecemos. Sabemos o que é um livro, e, portanto, o que é outro livro. E aí começa o problema. Quando nós retiramos a temporalidade dessa dimensão, porque a temporalidade é a condição para que o cérebro inclusive possa processar tudo aquele que lhe chegue, na verdade nós estamos cometendo uma certa violência. Porque o particular desta caneta, que é o fato de ser branca e vermelha, etc., de ter estas características, está de lado. Eu não me interesso pelo sentido de caneta, esse sai fora do tempo. Porém, se esta caneta ela for abandonada aqui, daqui a alguns anos ela vai virar pó, desaparecer, pois o tempo corrói tudo. O tempo é aquela entidade primigênia e louca, o Chronos que devora seus próprios filhos, como no famoso quadro de Goya, é uma devoração, uma voragem, e disso os gregos não gostavam muito. E o logos é uma forma de domesticar o tempo. Então, quando alguns filósofos clássicos propõem que “Tempo é a medida do movimento”, estão de certa forma resolvendo o problema. Tempo é a medida do movimento. Ao concordarmos com isso, nós estamos transformando o tempo numa questão do espaço, de geometria. Isso é uma mera questão de senso comum. Estamos transformando tempo, que é uma questão de temporalidade anterior a toda idéia de tempo que eu tenho, em crono-logia, o logos do chronos, em espaço geometrizado. E ao transformar o tempo em espaço, estou controlando-o ou assim penso estar fazendo. Será que eu também estou controlando a temporalidade anterior à idéia de tempo? Quando eu retiro e abstraio, esta é palavra técnica exata, um universal ou um conceito geral, etc, eu estou dando uma amostra de grande poder intelectual, não há dúvida. Vivemos na modernidade com e de conceitos abstratos, como, por exemplo, “ser humano”. E aí vem a questão: alguém se ofende se eu chamar de ser humano? Não. Mas, alguém se contenta com isso? Obviamente não. Porque o que o caracteriza não é ser simplesmente “humano”, eu não posso chamá-lo por ser humano. Ser humano é uma abstração. Eu tenho que chamá-lo pela sua diferença em relação à generalidade, à universalidade, diferença expressa pelo seu nome singular.

IV.
O que nos caracteriza paradoxalmente não é aquilo em nome do qual nós levantamos desde o século XVIII a nossa bandeira, que é a “igualdade”. Essa concepção de igualdade é perigosa. Ela diz tudo e não diz nada. É porque todos são iguais que alguns conseguem ser “mais iguais que outros”. Por quê? Porque o que realmente nos caracteriza é aquilo que está sendo transformado em quantidade e não mantido em qualidade: nossa singularidade. Aí está implícito um conceito interessante. O conceito de diferença é muito forte. Ele é tão forte que é tudo aquilo que pode nos ajudar a estabelecer as condições de surgimento da categoria “ética”. Não existe ética entre universais, universais são abstrações. Nós já temos um problema, nós temos um corpo e esse corpo é essencialmente uma fisiologia funcionante no tempo. Ele pressupõe a temporalidade para existir. No momento que ele saiu dessa temporalidade, ou ele está morto ou ele está abstraído. Enquanto nós não somos quem nós somos, quem nós realmente somos, mas o número do nosso CPF, da nossa identidade, nós somos mera quantidade. E dentro da nossa sociedade nós valemos enquanto quantidade. É esse o ponto que eu queria abordar. Somos medidos pelo nosso poder de compra, pelo nosso poder de troca, pelo nosso poder de consumo, mas dificilmente pela nossa diferença, que é a única coisa que, a rigor, nos interessa.

V.
Nesse ponto, nós já vemos as conseqüências que tudo isso traz para a questão do esporte. Se eu entender o esporte enquanto luta quantitativa, eu vou estar na verdade reproduzindo a guerra de todos contra todos, alguma coisa desse tipo, reproduzindo uma sociedade em relação à qual todas idéias funcionam como abstrações que se concretizam em uma luta, digamos assim. Aí que está o paradoxo. A competição a qualquer preço não é característica do esporte, por isso que se fala em comportamento anti-desportivo. Só que, a partir de um certo momento, começa a virar “esporte”. Há pessoas cujo “esporte” é competir e vencer a qualquer preço. Essa idéia de fair-play é para os românticos, para aquela espécie em extinção que ficou no passado e que pensa que hoje a gente pode dar chance para o azar. Se a oportunidade está aí temos que usá-la. E se vê nitidamente isso acontecendo. A sutileza parece que começa a fazer parte do próprio processo; por trás disso tudo, em um nível mais profundo de análise, poder-se-ia dizer: há uma confusão que se cria e é uma confusão dupla. Primeiro: a confusão entre uma descrição, uma presença, que é a única coisa pensável, presença no presente do indicativo, e a realidade mesma que acontece no tempo. Ou seja, a confusão entre a presença e tudo aquilo que é anterior a qualquer idéia de presença, que é a temporalidade, que é a única coisa não pensável, porque é a condição do tempo e de todo o pensamento, portanto (pensamos ao longo do tempo); e uma confusão entre quantidade e qualidade. Pois eu não penso fora da presença, eu não penso o tempo. Eu posso pensar que daqui a 500 milhões de anos o sol provavelmente vai inflar e virar uma estrela gigantesca, queimar, torrar Mercúrio, a Terra vai ficar inabitável e depois vai encolher, virar uma estrela anã daqui um bilhão de anos, qualquer coisa parecida... mas, no fundo o que eu estou pensando são momentos presenciais, de quando isto está(rá) acontecendo. Eu não sou capaz de pensar o tempo. Portanto, eu tenho que trazer tudo como se fossem flashs, como se fossem fotografias. Então vejamos, estamos com um problema muito grave, a nossa capacidade de inteligência, de racionalidade é extraordinária. Essa capacidade abstrativa, se por um lado nos dá uma incrível potência intelectual, também nos dá uma extraordinária armadilha. Armadilha de retirar de nós aquilo que nos constitui profundamente: a nossa temporalidade. E aí está a questão da quantidade e da qualidade. Nós, bem ou mal, por razões exatamente de estruturação do mundo administrado, vamos dizer assim, para usar a terminologia da Escola de Frankfurt, nós necessitamos ser organizados, criamos as Instituições, etc.. E eese é o grande desafio.

VI.

Então vejam, na verdade a nossa sociedade é essencialmente uma dimensão quantitativa, uma dimensão administrada, uma dimensão administradora, classificadora. Pegou a pior aspecto do logos e o usou para criar uma estrutura de dominação, tendo como área para isso a complexidade da sociedade contemporânea, e absolutizou esta dimensão. E aí, onde entra o esporte? Onde está a ética? Pois isso tem a ver com a qualidade, isso é outra coisa, isso é coisa de “menos importância”. Isso é coisa da minha subjetividade, do meu foro íntimo que não tem interesse objetivo para a sociedade administrada. Quando alguém necessita escrever um livro chamado Inteligência Emocional, como se toda inteligência não fosse emocional, é porque alguma coisa está muito “louca”, podem ter certeza absoluta. E essa é a sociedade em que nós vivemos. E é nessa sociedade que nós tentamos ser éticos. E a ética não cabe. Cabem as éticas profissionais, as deontologias particulares, as prescrições, muito bem, mas não cabe aquela ética primeira “no tempo” que fez com quem construísse este prédio aqui o construísse tão razoavelmente bem que não caiu na nossa cabeça. Normalmente, só lembramos de “ética” em sua falta.. O pai que abusou dos filhos, o ladrão que lesou o INSS em milhões. Aí todo mundo se lembra. Mas o fato é que a cada momento aquilo que é não-neutro do ser humano esteja aparecendo, por exemplo, essas vigas, todas têm sentido na estrutura do prédio, para nós não importa, porque nós pensamos quantitativamente e não qualitativamente.

VII.
Chegamos ao ponto que no qual eu queria concluir. Se o esporte em algum momento virar exclusivamente a quantidade de m2 ou cm2 que tem em uma camiseta para os patrocinadores, nós podemos dar adeus, fechar a porta da Esef e cada um fazer outra coisa, porque aí nós viramos quantidade em sentido estrito, aí já não é mais no sentido nem aproximadamente figurado. Se o esporte virar isso, ceder o espaço para essa lógica, podem ter certeza que alguma coisa morreu e não nasce de novo. Se o esporte capitular a esse modelo que é a transformação da nossa qualidade, da nossa diferença, numa generalidade abstrata, então nos podemos fechar, porque não tem mais sentido fazer o que nós fazemos. E quando se perde o sentido do fazer se perdeu tudo. Um suicida ou uma pessoa que tem ideação suicida só chega ao suicídio se o último resquício de esperança do sentido se esvair. Se não, ela ainda fica dando aviso, ela até pode fazer tentativas, etc., mas o psiquismo sabe como se arranjar para passar mensagens a serem decodificadas por alguém muito sensível ou por um profissional. Quando ela não passa mensagem, quando ela se esconde, aí a coisa é muito séria. Então, para encerrar, a idéia seria essa: cuidado com uma das mais humanas das atividades, o esporte. Pois o esporte, no melhor sentido do fair play, não é e não pode ser senão uma celebração das diferenças, das singularidades, da Alteridade.

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